DA CRISE DO EURO À CRISE MONETÁRIA MUNDIAL?
Há mais de um ano que o Estado vem sendo considerado o salvador de emergência da crise financeira e económica global. Na sua qualidade de lender of last ressort, como emprestador de última instância, ele construiu por todo o mundo linhas de amortecimento, usando a fartura do dinheiro dos bancos centrais, o mega-endividamento quase de economia de guerra, pacotes de resgate e programas de estímulo económico, sem que, no entanto, esteja à vista uma nova acumulação autónoma do capital mundial em si. Mas o Estado tem apenas uma competência formal para criar dinheiro, o qual continua substancialmente vinculado à valorização real do capital. Todos sabem que, se os programas estatais substituírem a criação real de valor, constrói-se um enorme potencial inflacionário. Como se concretiza agora economicamente este potencial?
A ameaça de bancarrota nacional da Grécia é actualmente o elo mais fraco. Como se sabe casos semelhantes estão à espreita em segundo plano. Há quem argumente que os Estados, ao contrário das empresas ou dos bancos, não podem realmente ir à falência. Mas o que significa isso? Uma olhada pela história mostra como as falências dos Estados são resolvidas: os Estados ou se desendividam forçosamente através da inflação, ou na forma comparativa, através de uma desvalorização monetária. Uma vez que a Grécia, no entanto, como os outros países do Euro, não tem moeda própria, o seu problema torna-se um problema de toda a zona monetária. Por agora está a cair o valor do Euro, contra o qual os grandes fundos já estão a especular. Não se trata de qualquer capricho maldoso de tubarões financeiros, mas sim da consequência imanente a qualquer insolvência estatal.
Se outros casos se seguirem, a queda do valor externo transforma-se em queda do valor interno. A razão é óbvia: perante a iminência de uma desvalorização da moeda, como última "libertação" possível do banco emissor, as empresas vêm-se forçadas a aumentos galopantes de preços para evitar a desvalorização de seus bens de capital. Este é um processo que se auto-alimenta, porque assim sobe a pressão para desvalorizar a moeda. Há, pois, o risco de um crash do Euro. Apesar de todas as garantias em contrário, os Estados principais do Euro têm de responder pela Grécia e por outros candidatos à falência. Mas, se apoiarem a Grécia para salvar o Euro, colocam-se numa situação semelhante, uma vez que eles próprios já chegaram ao limite da sua capacidade de financiamento regular. A famosa "perda de confiança" no sistema bancário repete-se em relação à moeda. Esta não é uma mera questão “psicológica", mas o resultado de uma dura realidade económica.
Um crash do Euro teria, porém, um efeito devastador sobre a economia global e sobre as outras zonas monetárias. A desvalorização geral dos activos e dos rendimentos através da inflação ou da desvalorização da moeda asfixiaria a economia interna da União Europeia e não só, porque a globalização criou uma articulação de todas as economias em grau muito maior do que no passado. Em qualquer caso, também nos E.U.A., no Japão e na China as finanças públicas e, com elas, a moeda estão com água até ao pescoço. A "inflação controlada" num máximo de 6 por cento, invocada pelos países anglo-saxónicos e do sul da Europa como travão da dívida pública, ameaça sair do controle antes que tenha começado. Como a Grécia na zona Euro, assim também a zona Euro no seu conjunto é o elo mais fraco no sistema monetário dos centros capitalistas, por causa de sua frágil construção. O facto de todas as moedas já se terem desvalorizado drasticamente contra o ouro é um indício da crise do sistema do dinheiro em geral.
Original VON DER EURO-KRISE ZUR WELTWÄHRUNGSKRISE? in www.exit-online.org. Publicado em Neues Deutschland, 05.03.2010