A crise continua a ser considerada superada e garante-se um crescimento exuberante da economia mundial, que em breve até há-de ultrapassar o nível pré-crise. No entanto manifesta-se, não propriamente com pezinhos de lã, um aumento sensível da inflação, que parece tomar o lugar do surto deflacionário da grande quebra. Entre os grandes suportes de esperança da conjuntura económica mundial, Índia e China, a taxa de inflação ultrapassou nos últimos meses a marca dos 5 por cento e os preços dos alimentos subiram 15 por cento (Índia) e 12 por cento (China). Em qualquer dos casos, têm tido pouco efeito os sucessivos aumentos das taxas de juro, que agora estão 5 por cento ou mais acima das europeias e norte-americanas. Uma subida semelhante da taxa de inflação se pode observar em muitas regiões periféricas do mundo. Também na zona euro a subida dos preços atingiu 2,4 por cento em Janeiro, saindo fora do objectivo oficial. A mesma tendência nos EUA provoca lá, ao que parece, apenas indiferença.
O que não há muito tempo seria considerado alarmante, pelo menos na União Europeia, é agora também aqui minimizado. Tanto o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, como o CEO do Deutsche Bank, Ackermann, consideraram a subida de preços a nível mundial como um fenómeno "normal" nesta conjuntura de alta e que a baixa de preços ocorrerá por si só com o ciclo económico. Eles caem aqui num erro elementar. Um aumento geral de preços apenas cíclico, a partir de um surto de procura regular, devido a maiores lucros e salários com base na valorização real do capital, é um fenómeno de mercado puro e não tem nada a ver com o valor do dinheiro. O caso é completamente diferente quando o consumo público e o dinheiro do banco central aquecem artificialmente a economia. Há uma enorme diferença entre a procura crescer, porque a economia recupera por si só, ou a economia recuperar, porque se cria por decreto governamental procura irregular do ponto de vista capitalista. Neste último caso, o aumento geral de preços resulta da desvalorização do próprio dinheiro. Esta é a inflação verdadeira, e é com ela que estamos confrontados agora.
Na verdade, os Estados e os seus bancos emissores criaram dinheiro de crédito numa escala sem precedentes históricos, para suster a crise económica mundial. Só nos EUA, no prazo de dois anos e por diversas vias, foram infiltrados mais de quatro biliões de dólares na economia. Por toda a parte o dinheiro da política de juros baixos ou nulos jorra como duma fonte sobre o sistema bancário comercial, que é autorizado a apresentar como "garantia" activos tóxicos. Além disso, a Reserva Federal dos EUA, Fed, há bastante tempo que vem comprando em massa títulos do tesouro americano, porque os asiáticos estão a desprezar cada vez mais esses papéis tornados duvidosos. O BCE ensaia o mesmo jogo com títulos da dívida pública dos países com deficit na zona euro, a fim de salvar a moeda única. Ao contrário do anunciado, não se tem conseguido voltar a absorver essa liquidez através de sociedades de refinanciamento. Enquanto o fluxo de dinheiro apenas refinancia dívidas ou faz subir as cotações das bolsas, a inflação é limitada. Mas, na medida em que se atinge o objectivo do exercício, ou seja, criar procura a partir do nada, segue-se inevitavelmente a desvalorização acelerada do dinheiro. É sinal de ignorância negar este contexto e inventar histórias sobre um crescimento auto-sustentável. A bomba inflacionária vai dissolver no ar o crescimento aparente, tal como antes a bomba deflacionária.
Original DER INFLATIONÄRE SPRENGSATZ in www.exit-online.org. Publicado em Neues Deutschland, 07.02.2011