Não são só as falências que se acumulam, são também as avarias. E não é apenas devido à violência do inverno que aeroportos são fechados temporariamente ou comboios rápidos intercidades são cancelados em série. Sempre existiu a estação do frio, mesmo nos tempos em que não eram maciçamente canceladas visitas nem compromissos. Em contrapartida já aconteceu o comboio de superfície de Berlim ter avariado em altura de se poder andar de T-Shirt. E, se o metro de Nuremberga se avaria cada vez mais vezes, não é por nevar no interior dos túneis. Na realidade, as companhias aéreas e os aeroportos, bem como as empresas ferroviárias e de transportes urbanos têm vindo a poupar no pessoal e na manutenção. Em Nuremberga, é o novo metro “sem maquinista” cujo alardeado sistema automático leva a atrasos. Aparentemente por puras razões de custo foi adoptada uma tecnologia ainda não totalmente desenvolvida. A organização e as informações estão constantemente em sobrecarga, porque a cobertura de pessoal é cada vez menor.
Não por acaso a série de avarias faz-se notar já há anos especialmente nos sectores dos transportes e da energia. Privatizados ou geridos sob o ponto de vista comercial, os serviços públicos negam sistematicamente o seu carácter de infra-estrutura social global, cujo contexto amplamente diversificado é simplesmente de mão-de-obra intensiva. A paragem de emergência no meio da linha, o caos nos horários e o corte de energia são apenas consequências de um comando passado para a pura racionalidade de custos da economia empresarial. Política e financeiramente o keynesianiasmo de crise substituiu o neoliberalismo como administração de emergência, mas na economia empresarial é mantida, e até reforçada a qualquer preço, a política neoliberal de redução de custos.
Isto também se aplica às empresas industriais, comerciais e bancárias que, apesar da queda maciça das vendas, se mantêm à tona de água através de poupanças a todos os níveis. Se já há muito tempo cada um vem sendo obrigado a fazer o que anteriormente era feito por três, agora cada um deve assumir as responsabilidades de quatro. Ou os meios de segurança e de manutenção são simplesmente eliminados. Aumenta a devolução de carros novos por causa de defeitos de construção ou de produção, tal como aumentam as deficiências das construções novas e aumentam os atritos nos circuitos de pagamento; ultimamente, por exemplo, com o não funcionamento de cartões de crédito e de ATMs. A fila no supermercado já se tornou um hábito, porque a funcionária da caixa tem de arrumar ao mesmo tempo as prateleiras. Sobre as condições no sector alimentar ninguém se atreve a perguntar. Vem mesmo a calhar que o próprio Estado e os municípios também eles tenham reduzido os organismos de controlo e inspecção; muito provavelmente ainda mais depois das reduções de impostos e da consequente diminuição da receita.
Se outrora a resistência de pessoal recalcitrante constituía a areia na engrenagem capitalista, agora os fabricantes descobriram que empregados e clientes admitem que se faça tudo com eles. Cresce o ritmo do serviço, diminuem as baixas por doença e reina o medo. Em breve serão provavelmente os próprios compradores a fazerem caixa self-service voluntariamente. À política financeira quase de economia de guerra corresponde um stress quotidiano quase de economia de guerra. Mas de nada serve a boa vontade e a servidão se é o impossível que deve ser feito de imediato. Já quase nada funciona em termos de organização prática, porque tudo funciona socialmente em termos de economia empresarial. A areia na engrenagem da economia empresarial é a própria economia empresarial.