A ROTA DE COLISÃO NO PACÍFICO


A ROTA DE COLISÃO NO PACÍFICO

O milagre da exportação da China baseava-se no milagre do consumo dos E.U.A.

Até há poucos anos ainda se falava do “século do Pacífico". O eixo da economia mundial, dizia-se, ter-se-ia deslocado da relação entre os E.U.A. e a Europa, no Atlântico, para a relação entre os E.U.A. e a Ásia (especialmente a China), no Pacífico. Ao mesmo tempo, sabia-se que o alegado novo eixo era portador de um "desequilíbrio extremo". O Pacífico era uma grande via de exportação de sentido único. Os Estados Unidos, a despeito da queda dos salários reais, absorviam unilateralmente o excedente das mercadorias da Ásia. Este milagre do consumo da classe média, que respondia por 80 por cento da conjuntura económica dos E.U.A., era alimentado em grande parte pelos rendimentos fictícios da bolha das acções e ultimamente sobretudo da bolha imobiliária. Esta estrutura de deficit do Pacífico era o motor da economia mundial. Porém, desde o Outono de 2008 que o motor vem falhando e parará nos próximos meses. As exportações da Ásia para os Estados Unidos já caíram. No entanto, não deve estar tudo assim tão mal. O Fundo Monetário Internacional já prevê novamente para 2010 uma recuperação da economia mundial.

De que expectativas se alimenta este optimismo profissional? A economia dos E.U.A., diz-se, teria batido no fundo, tal como a europeia. Ora os programas de estímulo à economia por todo o mundo, que agora chegam ao fim e já sobrecarregam os orçamentos de Estado, é que foram responsáveis pela absorção do choque da queda. Os prémios de abate de automóveis na Alemanha e nos E.U.A. esgotaram-se. O desemprego nos E.U.A. quase duplicou, ultrapassando os 10%, e continua a subir. A onda de falências acaba de ter início entre as empresas de fornecimentos e de serviços. Não está à vista qualquer injecção suplementar de poder de compra a partir das bolhas financeiras. Pelo contrário, entretanto são os sistemas de cartões de crédito que tremem. Não há qualquer razão para que a conjuntura económica dos E.U.A., a mais dependente do consumo de todos os países do mundo, volte a subir rapidamente. Em qualquer caso, depois da queda, mesmo com taxas de crescimento de dois ou três por cento, levaria cinco a dez anos para voltar ao nível anterior da conjuntura de deficit.

Mas, se o milagre do consumo dos E.U.A. não pode ser reactivado, também a exportação de sentido único através do Pacífico não pode ser salva. A ténue esperança de que a China possa assumir o papel dos Estados Unidos, numa inversão de posições da conjuntura de deficit recente, é totalmente ilusória. O milagre da exportação chinesa baseava-se no milagre do consumo dos E.U.A. Apesar da massa da sua população, o mercado interno chinês é muito pequeno para conseguir absorver o excedente das mercadorias do mundo. A receita do suposto sucesso  uma combinação de baixos salários e componentes importados de alta tecnologia para a exportação de sentido único, em grande parte por meio de investimentos de empresas americanas, japonesas e europeias nas zonas económicas especiais  não pode ser substituída por um consumo interno chinês suficientemente grande; muito menos no curto prazo.

Após a forte queda nas exportações para os Estados Unidos, a China salvou o seu crescimento temporariamente com o maior programa de apoio à conjuntura económica interna de todo o mundo. Mas a parte do leão consiste em investimentos infra-estruturais financiados a crédito, todos eles voltados para novas exportações. É previsível que só restem ruínas destes investimentos, seguindo-se o estouro da bolha do crédito chinesa. Enquanto de ambos os lados do Pacífico se sonha em ser de algum modo resgatado pelo outro lado, vai-se desenvolvendo uma rota de colisão na anterior via da exportação de sentido único. A Europa dificilmente será um terceiro que se fique a rir, porque ela própria está dependente da renovação da conjuntura económica de deficit global.

Original DER PAZIFISCHE CRASHKURS em www.exit-online.org. Publicado em Neues Deutschland, 09.10.2009